21/06

Qualquer comparação como a das “novas maravilhas do mundo” é superficial e se presta à brincadeira com potencial turístico, sabemos.

Sabemos?

Se o tradicional critério histórico revela a mediocridade da estátua do Cristo, vale o conjunto que emoldura e esclarece justamente como o Rio de Janeiro proporciona às intervenções humanas – incluindo os próprios –, particularidade e vigor. Essa é a leitura que independe do pleito.

É como o site que elegeu Copacabana a “melhor praia do mundo”, e que naturalmente pede pelo todo – e não a mera beleza plástica, onde certamente passaria aquém. É a experiência, o modo como a Cidade interpenetra ousadamente em suas bases tantas vezes alteradas, “um lugar cujas particularidades jamais recomendariam o povoamento”, o tabuleiro para seis milhões de habitantes.

Tais escolhas são polêmicas, e, volto a dizer, banais. A explicação é pessoal e não jactante.

Pois que, pesquisando sobre a história do Rio de Janeiro, caio em uma interessante página sobre o Circuito da Gávea, de onde pinço, grifando:

É interessante salientar que haviam se passado onze anos desde a última vitória de Pintacuda na Gávea – 1938 – quando surgiu a “Marcha do Gago”, o que evidencia quão profundamente ele deixou seu nome gravado na mente dos cariocas pela sua atuação nas curvas do Trampolim do Diabo, onde a letra dizia, imitando a voz de um gago, que só corria rápido para beijar:

Ta-ta-ta tá na hora
Va-va-va vale tudo agora
Sou mo-mole pra fa-falar
Mas sou um Pintacuda pra beijar.

(bis)
Eu fico ga-ga-ga-ga gago dentro do salão
Até pa-pa-pa-pago pra não ver canhão
Mas se a do-do-do-do-dona é boa
A minha língua se destrava à toa!

Por favor.

20/06

“Barba por fazer”, meu sobrenome.

Movido a adrenalina fresca e pouca experiência, o infante criminoso e a própria instância de morte oficial ou oficiosa – no caso da prisão, insalubre – contribuem pesadamente para o estado de guerra. Fora a corrupção estatal, naturalmente.

É planejamento para décadas, um caso de herança revertida.

Design moderno” quer dizer o quê?

– Eu estudei em colégio de freiras, sou praticamente uma santa.
– Eu tambem estudei.
– ‘tá vendo? Somos provas vivas.
– Fui batizado com água do Rio Jordão, inclusive.
– Deve ter se embebedado.
– Não sei como escapei da leptospirose.
– Hahahahahahahaha

19/06

– Forca Nacional.
– Assim?
– Assim.

18/06

Leonardo Villar e John Cleese.

Aproveitando o tema yokozuna, o vídeo que resume as inéditas 53 vitórias de Chiyonofuji Mitsugu, no YouTube, usa como trilha a “Good to play“, do Ricardo Silveira.

Ê, página de Pandora.

17/06

Uma double bock alemã, encorpada e complexa, para evitar o preconceito.

Amber agradabilíssima, consistente e persistente.

Mais uma tripla fermentação belga, dourada, com espuma fina e persistente.

Monge de ordem militar, Santo Arnoldo é o padroeiro do cervejeiro e sua criação, aqui representada no agradável tom caramelo, quase comprometido pela doçura.

Strong Pale Ale… Ah, chega de texto, que eu vou beber.

– Mas você não torce pra nada?
– Torço para acabar.

– Ela foi a única pela qual me apaixonei.
– Nossa, eu vivo me apaixonando e desapaixonando, já tá até ficando chato.
– Eu guardo um bicho de pelúcia presenteado há quase quinze anos. Um bobalhão, mesmo.
– Ai, que lindo.
– Ainda acho que preciso de interdição.
– Parece história de filme oriental de amor.
– Yokozuna, presente.
– Ando meio cansada para relacionamentos. No fim, eu sei que vai dar errado, mesmo.
– Eu consultei microfilmes do Arquivo Nacional, a pedido dela, em busca de informações para validar uma cidadania européia. Passei dias olhando manuscritos, sozinho.
– Você realmente era apaixonado. E que fim levou? Nunca mais a viu?
– No final do ano passado eu lembrei, e busquei um e-mail para ver como ela anda. Trocamos duas ou três mensagens brevíssimas, e um chat que acabou sendo insosso.
– E ela sumiu de novo?
– Faltou sintonia mesmo para uma conversa trivial, se é que já houve. É outra vida, outro país. O pior é que eu me apaixonei justamente quando ela namorava um grande amigo, e esse impulso incontrolável tornou o processo uma ópera mexicana. Terrível, terrível, viver aquilo calado.
– Isso rende um filme.
– Ele mal dava atenção a ela, o que levou ao fim.
– Romântica demais, essa história.
– Fiz minha primeira dieta – secretamente – para encontrá-la, e passei alguns dias em sua cidade, em sua casa, ajudando com a mudança da família, inclusive.
– E não ficou?
– Nada, bateu a deprimente paralisia da timidez, temendo estragar a amizade, aquela coisa.
– Compra uma passagem, agora!
– Quando ela disse que viajaria para morar em outro país, o mundo ruiu. Encarei todas as horas do ônibus, na volta, profundamente arrasado. Nunca mais nos vimos. Naquele ano, aliás, mandei entregar flores no exterior, no dia de seu aniversário. Só obtive resposta três meses depois, através da mãe.
– Ela devia ter ligado para agradecer.
– Fiz várias coisas ridículas, o roteiro tradicional.
– Coisas ridículas são tão fofas quando estamos apaixonados, mas volta e meia eu lembro de algo, e me arrependo.
– Veja, eu cheguei a começar a ler a tese de doutorado de sua mãe, sobre o história do programa nuclear brasileiro, só para agradar.
– Hahaha já fiz essas coisas, também.
– Controlava até o linguajar, a ponto de ouvir, da mãe, que eu falava muito bem. Que vergonha, que vergonha.
– Meu namorado publicou um artigo sobre fontes de energia, e eu fingi ler só para ele ficar feliz.
– No fundo, é tudo muito parecido.
– Na verdade, eu prestei atenção à diagramação – que, por sinal, era péssima. Agora fiquei deprimida, lembrei de várias coisas trashes que já fiz.

Faz-se perceber no almoço diário aquela mesma executiva alta, sozinha, que provoca não somente o olhar externo, como a percepção do espelho: eu, do costume solitário, que há tempos organizo a pequena vida social pela primeira pessoa, perco a sensação do silêncio que preenche o meu dia. É o pensamento intenso, vibrante, aquele a escamotear a própria voz externa e o autor.

No geral, não há porém. Mas vale conhecer gente, também.

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