Pós-Graduação em Animação – PUC-Rio
História da Animação – Professor Marcos Magalhães
José Bessa Nogueira Filho
Em que pesem quaisquer aspectos do processo, animar é fundamentalmente um processo dicotômico, envolvendo a maximização da escala de tempo humana para decompor e reorganizar a realidade. Definir e entender essa atividade é a chave para desvendar um trabalho instigante como o de Oskar Fischinger, denominado – em alguns casos pejorativamente – “abstrato”.
Inicialmente um estudante de violino e teoria harmônica, Fischinger encontra, na apresentação de Light-Play Opus nº1 – um colorido filme abstrato de Walther Ruttmann, sonorizado ao vivo –, a paixão pelo cinema como o canal para suas habilidades gráficas e musicais. Se tal constatação não é suficientemente clara para enxergá-lo também como precursor do videografismo, vale o entendimento de seus primeiros filmes, nos anos 20, onde a busca pelo rompimento formal o leva ao trabalho com cera e múltiplas projeções.
Temporariamente imobilizado pelo tornozelo quebrado durante uma filmagem para Fritz Lang em 1929, e com a interrupção das produções de Ruttmann, Fischinger dá início à experimentação com formas básicas em quase duas dezenas de estudos a carvão, cuja dinâmica visual e a sincronização projetam-no internacionalmente. Mesmo com a ascensão Nazista e o conseqüente repúdio governamental às manifestações modernas, opta por contornar a limitação com a produção publicitária, desenvolvendo também, paralelamente, um segundo filme colorido, vencedor da Feira Mundial de Bruxelas, e responsável pelo convite para trabalhar nos EUA em 1936.
A temporada americana representa o conflito entre sua liberdade artística e as determinantes de mercado, as diretrizes econômicas e de marketing do que viria a ser a indústria do entretenimento. Mesmo em seguida, sob a tutela da Fundação Guggenheim, continua sem perspectiva para o trabalho autoral, tendo sua plenitudade comprometida até o falecimento.
O entendimento musical como um processo análogo à animação palpável – a orquestração e a divisão escalar dos intrumentos, sua programação e apresentação como protagonista –, é determinante para o desenvolvimento audiovisual contemporâneo. A potencialização dos processos sensoriais tem, em Oskar Fischinger, um manancial que ainda hoje pouco reverbera, apesar das possibilidades tecnológicas que levam alguns princípios temporais para o grande público, como os aparatos de comunicação pessoal – Internet, telefonia celular etc. – que possibilitam alcance e descentralização de forma inédita.
Assimilar Oskar Fischinger é estabelecer novas bases de alfabetização multimídia.