Aponto a pequena torta no CafeÃna do Leblon:
– Quer que embrulhe?
Estranho a confiança no meu apetite, e confirmo. No caixa, percebendo a cobrança referente à fatia, alerto para o erro de interpretação, desencadeando o pavor da atendente que tenta recompor o todo, enquanto alternativas são oferecidas pela supervisora. Constatando a reposição, reafirmo o pedido, despreocupado com o confeito deflorado.
E a atendente respira aliviada, coitada, num sofrimento – e lágrimas, várias – que alertam para a linha tênue do emprego muitas vezes fora de nossa percepção cotidiana. E aquela voz nordestina, preocupada, agradecida pela inesperada condescendência, faz-me um benfeitor às avessas. Imagine se eu digo do aniversário naquele dia – o bolo é por acaso.