O indivÃduo preserva os piores registros fotográficos e audiovisuais alheios, revelando mais de si, que dos retratados.
Eis que o assunto foge da irrelevância cotidiana em páginas e bocas, apontando para a tragédia urbana prenunciada, que parece surpreender outra vez pelo patamar. E o foco, nesse meu entender distante e burguês, passa invariavelmente ao largo da percepção real, ecoando um discurso vingativo dos grandes veÃculos. Não é por aÃ.
Se há um necessário ajuste penal, revendo progressões e maioridade, cabe, antes, estruturar instituições apolÃticas, unificadas, cientÃficas e capazes de formar agentes policiais, ao contrário dos cangaceiros que passeiam com o nome e o tipo sangüÃneo em suas fardas. Entra aà a remuneração equivalente, bem como estruturas que permitam a todos – incluindo o apenado, possivelmente em unidades fabris – o correto exercÃcio de seus deveres em um sistema de segurança pública. O ciclo de violência oficiosa, sob a ótica do talião, não foge da tradicional ditadura imposta à s camadas pobres – que encerra em si, desde sempre, a pena de morte. Barbárie, também.
E a questão social vem ao lado, sem assistencialismo. Não é pela erradicação da pobreza, essencialmente, mas da miséria. Qualquer discussão sobre a origem da violência vem depois. É a educação e o acesso, a noção de respeito e dignidade.
Não será o abastado com a varanda coberta em protesto; as camisas brancas e pretas; os tolos filósofos etÃlicos da zona sul; os colunistas chiliquentos e nem eu: Seremos todos – individualmente –, comportando-se para replicar e definir civilidade.
Ps.: Será que os nobres torcedores que foram ao Maracanã prestar homenagem ao João Hélio Fernandes resolveram não depredar o Estádio dessa vez?
– Há vários anos eu dei uma festa anos 70, e, juntando os LPs, descobri uma coletânea cujo selo tinha endereço – à época – numa casa vizinha. Para uma rua com não mais do que vinte imóveis, dá para imaginar a surpresa.
– Essas coisas não acontecem em BrasÃlia, é tudo muito recente.
– A ladeira aqui ao lado é antiga, então você descobre referências interessantÃssimas pela Internet, como o próprio decreto redefinindo os limites do Parque Nacional da Tijuca – ao qual ela pertence. Olha só esse trecho: Floresta da Tijuca (Setor A), pela vertente oeste:
começa no Portão da Floresta da Tijuca na Praça Afonso Viseu (Ponto 1) e sobe pelo espigão na direção do cume do Morro do Visconde (517,4 m), cruzando as cotas 375 m (Ponto 2), cota 425 m (Ponto 3), cota 460 m (Ponto 4). DaÃ, segue por esta cota 460 m em direção oeste e encontra a linha imaginária geográfica de direção Norte-Sul (Ponto 5), que liga o cume do Morro do Almeida (537,1 m) à Estrada do Açude, cruzando as curvas de cota 440 m (Ponto 6), e cota 410 m (Ponto 7). (…)
– Hahahaha
– Trabalho de corno, levantar isso.
– E o pior é que essas cotas são um saco pra medir. Já fiz muito.
– No meu primeiro estágio, fui alocado junto ao pessoal de arquitetura, e fiquei desenhando loteamentos irregulares por meses.
– Eu passei um semestre inteiro fazendo isso, medindo declividade e limite de lote com técnicas rudimentares. Depois, eu fiz topografia e me deram uns medidores melhores.
– O meu prazer foi descobrir a borracha elétrica para nanquim, que maravilha. E tomei horror a normógrafo!
– Hahahaha só mexi com isso no primeiro semestre de faculdade. Eu medi um terreno de shopping inteiro, e o pior era o mato com dois metros de altura. Fui de bota, achando que poderia encontrar uma cobra a cada metro. DaÃ, passou uma viatura de polÃcia: “O que você tá fazendo?” “Trabalho para a faculdade.” “Semana passada tiveram três estupros aqui.” “Ah, bom saber…” DaÃ, eu já tinha medido a borda inteira do terreno, e meu professor nos fez mudar para um três vezes maior – mas sem mato!
– Credo.
– Um horror, mas aprendi. Vou dormir, que amanhã eu vou fazer a cenografia de um desfile no Museu do Niemeyer, inaugurado há pouco no Centro Cultural da República, junto a uma biblioteca ainda sem livros! Haha
– Aliás, eu não entendi esse nome “Biblioteca Nacional”. É outra?
– Pois é, eu já questionei isso. A cúpula é bonita, o Niemeyer é bom mesmo, ainda que não faça habitável. Fico impressionada, cada rampa linda. Quando conversei com o engenheiro de lá, ele confessou estar com medo de tirar as estacas de apoio! Haha
– Eu vejo nele uma figura para sinalizar possibilidades, puxar por alternativas para os profissionais cotidianos.
– Claro! Eu moro numa cidade feita por ele, então eu amo e odeio. Na verdade, eu acho pior o que o Lucio Costa fez.
– Eu nunca vi a Ãntegra do plano dele para a Barra, mas algo me diz que não é bom.
– Eu já vi, tenho em livro.
– Opa, eu adoro história urbana. Acho que, lá no fundo, eu sou um pouquinho arquiteto ou urbanista.
– Eu adoro. Meu ensaio teórico foi uma análise urbana que acabou engraçada. Fui analisar arquitetura e acabei justificando pela não-urbanidade… adorei!
– Aproveitando o assunto, eu tenho uma teoria a respeito da ocupação e demarcação de vias para pedrestres. Pode reparar que geralmente as pessoas criam atalhos pela grama, evitando os traçados excessivamente cartesianos, gerando, à sua maneira, trilhas que correspondem ao trajeto natural. Não seria importante aplicar algum tipo de conhecimento a isso, antes de estabelecer espaços impositivos? É utópico, eu sei.
– Hahahaha procura por BrasÃlia no Google Earth; é só o que tem, e não há solução por causa do plano Lucio Costa.
– Acho que você disse tudo. É o plano do Lucio Costa.
Passando em frente à estação do Corcovado, sou abordado pela mulata que anuncia e distribui a programação carnavalesca do Scala.
É esse meu perfil tipicamente carioca, sabe.
Quanto falta para começarem a tunar carrinhos de brinquedo? E, se já o fazem, quando começarão as competições? E a cobertura televisiva?
‘tá fácil prever.
Ainda lanço o quadrinho “Azar é”.
Registre-se, pois, neste último dia três, minha primeira reação alérgica oficial – no caso, a uma pomada. Pele vermelha, igual à quela de insolação; coceira e até mesmo alguns cravos no rosto. Para o desavisado, a sensação é estranhÃssima.
Ps.: Em verdade, não há culpado. Pode ser mesmo a Novalgina que veio próxima ao creme. Suspense.
O Diário do Noroeste, de ParanavaÃ, Paraná, manda avisar:
Programe-se.
– É raro mulher gostar. Quando muito, há concessão ao cavanhaque.
– Nunca tive nada contra, nunca tive namorado de barba. DaÃ, um dia fiquei com um e outro dia fiquei com outro, e aparece um namorado: máquina 4 na cabeça, e 1 na barba.
– Ah, a máquina… liberdade. Cabelo fino, despenteado, nunca mais! E quando você é mais novo, tem sempre alguém pra ficar apontando o prenúncio da calvÃcie. Ô povo.
– No caso dele, tá começando cedo, já que só tem 25.
– Meu pai costumava dizer que ele foi o primeiro dos amigos a apresentar o sinal, mas, em processo lento. Hoje em dia, ele não é careca. Espero por algo semelhante. Dizem que poderia melhorar, mas, sei lá. Não me incomoda a ponto de buscar tratamento.
– Às vezes vocês se preocupam demais com isso, como as mulheres com a celulite.
– Eu costumo lembrar ao ver fotos, aquele flash estourando.
– O brilho.
– Também… um sujeito pálido como eu.
– Ah, uma nova caixa de alfajores…
– Tem uma aqui, pra você, beeem vazia.
– Diet, não.
– Como eu já devo ter contado, eu sou constipada. Fico até três semanas sem ir ao banheiro, então, laxantes fazem parte da minha vida.
– Da Série “Folgo em Saber”.
– A verdade é que toda vez que falo com você, é a hora em que o remédio funciona. Sem piada.
– Começou o Derby da Demolição do Ego.
– Agora mesmo eu comecei a sentir o laxante. Você desperta algo em mim, sério.
– Serei eu um X-Men? Colon-man?
– Você tem a capacidade de despertar a minha peristalse.
– Ainda bem que eu não tenho que pensar no sÃmbolo do uniforme.
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