Conforme nos aproximamos o espaço se expande. Ela é só estética; eu sou só estática.
Enquanto o rosto se curva buscando a leitura, o rearranjo da luz providencia descobertas pelo maciço à maneira da estátua contextualizada pelas fases do dia. O arredondado suave das bochechas, o imperioso nariz sombreando lábios em forma de proscênio. Resta ao queixo a exclamação para tantos arranjos e assanhamentos em pensamento.
Pelo vestido preto vazam brancuras em caules como o do louro caramelado em um rabo de cavalo. O longo pescoço que não se resume à sustentação presta contas do imaginário em medidas que prolongam o olhar pelo interminável.
Tudo o que eu disser será segredo e desejo entre cabelos.
No restaurante japonês a descendente desconversa com o amendoado da pele no aconchego visual. O pé displicente sobre o assento; os panos em conluio. Os fios que escorrem pelo rosto revelam olhos de pétala num breu de shoyo.
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O pálido europeu desenha nuances pelo que a luz sugere no mármore do rosto. Traços fortes, nariz projetado. Algo insinua cor no fundo dos olhos, delicado como convêm aos arredores. Cabelos presos, orelhas rentes e lábios parabólicos.
O discreto e intermitente ruÃdo por entre os vidros separa a pequena sobreloja da cafeteria do pátio. Passos prenunciam a moça pálida num louro alaranjado das pessoas-mostarda pouco sublinhadas. Uma estrela solitária na saboneteira, o conjunto jeans pouco revelando do sutiã de alças pretas, numa pose da escrita no caderno pousado pela mesa com o celular. O café do copo é o único a esfriar.
Os tantos predicados que ela insinua convergem para insuspeitos olhares de observações cotidianas. Não há, como em qualquer momento especial, o especial momento; são das nuances cÃclicas e da sutileza diária a real expressão daquilo que se julga a verdade da vida.
Embebido em lábios, o sorriso recorta o panorama em busca do momento ideal.
A espera incondicional do restaurante não anteviu duas das moças em rumo contrário; havendo quanto à segunda, morena executiva, o despertar da atenção quando do cruzar de vistas em instantes além-relógio. O fio dos olhos, o flerte insinuado em discreta atenção maliciosa no passar-além; foram esses e tantos outros os instintos disparados pelo que de mais claro se esconde no escuro do cristalino.
Sobre incontáveis histórias iluminadas pelo cinema, famÃlias ou amigos, amantes; relações imprimem-se pelo que nos define essa sintonia, muitas vezes tênue, amorfa e surpreendente como o vento que uiva por entre as brechas.
Há, ainda assim, quanto ao poder dos sabores e comidas como que o suspiro em unÃssono, o não-verbal e tão humano reconciliar das experiências pelo paladar. São nossas histórias, contos dos quais nos apoderamos por temperos e intensidades que reverberam pelos poros, tensionam músculos e irrigam olhos e memórias.
Talvez seja esse o apelo, então, sucessivo; aquele que me joga às lágrimas diante de toda vivência alimentar. Dos cantos aos tantos.
Como um rascunho certeiro, a feminilidade resume-se muitas vezes à intervenção preciosa sobre o vazio.
Um convite irrompe a timidez masculina, para despertar aquela risada que sopra nuvens.
A mão sob o queixo, o semblante atento desenhando o sorriso. O reflexo na tela do filme compartilhado trai a moça na fuga do olhar alheio.
Por entre atribuições diversas do cotidiano a mente persevera às vezes violentamente, entre vertigens de um desejo sem nome, ou prado sem boi. Reféns dos pensamentos que violentamente jogam contra os poréns, afunilamo-nos.
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