10/07

Em meio à eterna e pesada autocrítica, ouso congratular-me pelo cuidado com a propriedade alheia; não apenas a intelectual, mas os próprios pertences confiados. E é justamente isso que rende a troça de alguns, vá entender.

Entende-se, quer dizer.

Dos corretores com os quais lido, um vem de fábrica, vocacionado. O jargão, a indumentária e o tom de voz, tudo casa – e cansa. Fora que soa como o Maluf:

– Doutoooor, tenho aqui um a-par-ta-men-to maaaaaaaravilhoso, enorme, de andar alto, muito bom. Tem uma pequena vista da “comunidade”…

Vêm dele as piores ofertas.

9/07

Garcia & Rodrigues na cabeça, mesmo com a excessiva manteiga.

É comum que a maioria dos homens preserve o manequim da calça com os anos, descendo a cintura em função da barriga. Outros, como eu, democratizam o ganho e penam com a mudança de número progressiva.

Para aqueles primeiros, porém, uma sugestão promete conforto.

Não lembro quando começou a conta naquele jornaleiro em frente ao antigo prédio, mas a adolescência ainda acenava de longe. Foi por ele, inclusive, o acesso irrestrito a quaisquer Playboys e congêneres, como a revista cabeludíssima que cheguei a levar para o colégio na Quinta ou Sétima Série. Já não lembro exatamente.

Vem dali o meu fascínio pelos quadrinhos, juntando-se depois às publicações em geral e também aos periódicos, naquelas imberbes aquisições do Jornal do Commercio e Gazeta Mercantil, fora outros. ‘taí uma lembrança divertida.

As mudanças de comando na banca jamais interferiram na política de intimidade, como bem demonstrou aquele clone de Leslie Nielsen ao entregar a edição com a Elba Ramalho:

– Olha só, não vá tocar punheta com isso!

8/07

Como chavão ideológico, “Burguês” serve para distanciar criticamente. Não tem erro, e o sujeito ainda passa como politizado.

No Século XIX.

‘tá, mas eu queria mesmo era um amor casual.

Há quase um mês, irritado com alguns acontecimentos e a falta de um lugar agradável para o almoço, adentrei o Senac Bistrô, ainda cheio:

– Mesa para um.
– Estamos fechados, Senhor.
– Tudo bem, eu não dou sorte, mesmo.

O maître ficou pensativo.

Em voga no YouTube, a travessura para com os correspondentes televisivos apenas extrapola uma tendência eterna que já provoca, por exemplo, nos informes da Baixada para o RJTV, um brutal desfoque do entorno, preservando o repórter e – literalmente – o foco.

7/07


Duas de uma, em homenagem às gêmeas.

Você acha a eleição do Cristo injusta? Bem, a primeira relação veio de uma só pessoa.

Sinalizo apenas a irrelevância, feliz pelo potencial turístico de uma obra que evoca bons pensamentos. Torcer contra é coisa de gente boba, que não desiste nunca.

Ou intelectuais.

Ao sair de um determinado perímetro, a distância geográfica de uma reunião passa a ser inversamente proporcional ao orçamento envolvido.

6/07

Das coisas que eu gravo para o meu pai.

Uma bolsa de pano, grande, musgo, quase como a calça lisa mais clara, num pano que me escapa. Nos pés, uma delicada e clara sandália. A jaqueta jeans não permite ver a blusa, que perde importância diante do rosto, mesmo que de lado, em grandes maçãs – ah, maçãs! – que, podendo arredondá-lo em demasia, compensam-se na face levemente vertical, e tão cheia de pequenas curvas e sombras, que a projeção do cinema, quando a luz baixa, faz o pobre incauto imaginar. As orelhas, bem, elas guardam brilhantes – dois na esquerda, a que vi. O cabelo castanho deixa correr pequenas mechas douradas, como luzes ou algo semelhante. E ela, bem, ela é um sorriso que equilibra o todo, e que me faz lembrar, e pensar e pensar e pensar.

Devia estar acompanhada.

– Ainda existe A Porta da Esperança?
– Respondo já.

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